AUSÊNCIA DE VINÍCUIS DE MORAES

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AUSÊNCIA
VINÍCUIS DE MORAES

 

Eu deixarei que morra em mim

O desejo de amar os teus olhos que são doces

Porque nada te poderei dar

Senão a mágoa de me veres eternamente exausto

No entanto a tua presença

É qualquer coisa como a luz e a vida

E eu sinto que em meu gesto

Existe o teu gesto e em minha voz a tua voz

Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado

Quero só que surjas em mim

Como a fé nos desesperados

Para que eu possa levar

Uma gota de orvalho

Nesta terra amaldiçoada

Que ficou sobre a minha carne

Como nódoa do passado

Eu deixarei

Tu irás e encostarás a tua face em outra face

Teus dedos enlaçarão outros dedos

E tu desabrocharás para a madrugada

Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu

Porque eu fui o grande íntimo da noite

Porque eu encostei minha face na face da noite

E ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa

Suspensos no espaço

E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado

Eu ficarei só

Como os veleiros nos portos silenciosos

Mas eu te possuirei como ninguém

Porque poderei partir

E todas as lamentações do mar

Do vento, do céu, das aves, das estrelas

Serão a tua voz presente

A tua voz ausente

A tua voz serenizada.

 

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